sábado, 3 de dezembro de 2011

TEXTO Nº 1 DO LIVRO INÉDITO “ANDREINVISIVEL”



Dissequei parte do que havia deste texto e o reescrevi pouco depois de começar a pensar em “andreinvisivel” como um livro de fato – fato ocorrido na metade deste ano. O início de uma experiência tão usual agora me excitava a cada dia: poder mostrá-lo no blog dand m. e no facebook – além do site eupatrocino. O próprio local onde me encontrava, os odiados amigos e a madrugada (mais fiel das prostitutas) foram decisivos para sua escritura. Eis o texto em movimento:


 “habitante do suburbano epicentro entre um imperador e uma santa – também conhecido por ser vizinho do fim do mundo: passagem Resistência nº 7 assim como Homero Conrad Zênon Sun Tzu Mefisto – também eu possuo um nome: me chamo Ser sem Ser

 corre nas minhas veias a mais estranha das deusas: a poesia é ela que se esfumaça por todo o ambiente infecto onde agora me encontro é ela com sua grinalda e seus espinhos que levanta o ator do palco vinda não se sabe de onde é ela que fascina e incomoda ao mesmo tempo – como um susto doce e repentino que meus olhos ceifam e meu coração quase traduz

 a fuga sempre me projetou para o coração da noite

 estou no bar do parque noiva de todos – quando a noite chegar pragas e blasfêmias subirão aos céus promessas de amor e morte se entrelaçarão em um novelo com o qual se tecerá o sudário comum da natureza do ouro ao lixo do transeunte às estátuas de bronze do traficante ao meu amor – tudo e todos se tocarão: ora com mãos muito alvas ora com mãos leprosas

 o estio lambe crianças com sua língua indecente

 vindo da baía não muito distante paira sobre todas as cabeças um barco pesado de lixo a luz noturna imprime nas coisas a mesma cor impiedosa da beleza que agora incide no rosto de uma puta projetado contra a aparente paz do teatro

 na avenida mangueiras semáforos e travestis se comunicam como em uma oração bêbada enquanto ao teu lado uma velha índia morta entoa um monólogo a Tupã o Grande Hotel por um momento arde diante de teus olhos

 uma faca trincada entre os dentes – assim é para mim a poesia”

 * * *




quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre o Livro de Ouro Borges & outras belezas

"andreinvisivel" é um livro em movimento. Mas motivos em especial me levaram a querer construi-lo em papel:

1)Jorge Luis Borges... Quase dois anos atrás, minha irmã Lordes trouxe de Paris a obra completa de Borges para entregar ao querido Olivar Barreto. Quiseram os deuses que antes Borges pernoitasse em minha casa. Como fazem os velhos mortos ditadores desta era, apreendi por tempo indeterminado a carga: trata-se de quatro suntuosos monolitos literários atemporais – e tudo o que passei a ler então. Em conseqüência, voltei a escrever/reescrever/destruir/recriar pequenos textos em prosa poética (sempre alinhavados por versos silenciosos) que já vinha arquivando por certo tempo. E, surpreso, constatei que Borges, assim como eu, já em seu primeiro livro "Fervor de Buenos Aires", deleita o leitor com um pequeno texto introdutório – gota de veneno, até este não poder largá-lo nunca mais;

2) o meu lento afastamento da internet a partir deste dia – passei a ler livros de papel e escrever (no computador) com maior excitação: “andreinvisivel” é pensado pela primeira vez;


3) a própria... Internet!... Sim! Pois em meados de Setembro deste ano, fui apresentado aos criadores do site eupatrocino.com – versão ultra moderna do romântico Livro de Ouro. Finalmente decidi pelo projeto ANDREINVISIVEL, mas... o livro ainda não estava pronto!!! Este era o mote! Por ainda não estar completamente escrito nem organizado, iria concebê-lo (parcialmente) na internet. Através do site eu poderia possibilitar o pagamento da gráfica e dos colaboradores para executá-lo. Assim, o projeto se encontra disponível no site eupatrocino.com, enquanto divido a experimentação/criação da obra (capa, corpo, textos, poemas) com leitores, amigos e desconhecidos, possíveis mecenas interessados pela melhor literatura – afinal de contas, Borges está comigo, além de Misha Gordin (fotografia da capa) e outros que aqui estão presentes – mas ainda invisíveis e

4) as possibilidades poéticas que deste mergulho advirão.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Os versos do caminhante noturno



Poeta Dand M. prepara seu quarto livro, misturando prosa e poesia

As palavras de Dand M. transitam pela noite, becos, vícios, e solidão. Viés mundano à flor da pele. O poeta como andarilho errante. Não há salvação ou acalanto nas palavras de Dand M.
“é ela que se esfumaça por todo o ambiente infecto onde agora me encontro é ela com sua grinalda e seus espinhos que levanta o ator do palco: uma faca trincada entre os dentes – assim é para mim a poesia”, diz o poeta em um dos primeiros textos escritos que esboça o seu mais recente livro, “andreinvisivel”.
"Trata-se de um livro experimental, onde deliberadamente abdico da pontuação, além de libertar o texto no espaço, sem me ater à outra estética que não seja a possibilidade de me proporcionar à poesia”, explica.
Transfiguradas, as palavras passeiam pela folha sempre em letras minúsculas, como pregava Maiakovski, poeta russo que defendia a escrita como o registro da fala, fluida, espontânea, ligeira. No lugar de ponto parágrafo, um abismo entre as frases. O espaço em branco como silêncio. Niilismo e metáfora dos malditos.
“e este brilho nas mãos depois que toquei as entranhas de Nietzsche Borges ou Rimbaud: imperadores dos séculos e séculos além – noites ácidas amazônicas que meu destino quis viver no beiral da poesia”, revela Dand sobre as influências que permeiam a atmosfera de “andreinvisivel”, seu quarto livro.
A obra anuncia o apuro da escrita do poeta, que participou pela primeira vez de um concurso literário em 1985 na Academia Paraense de Letras, sendo vencedor por unanimidade, com o livro "Do nu ao infinito", e foi premiado pelo IAP com as obras “Flores da Campina” (2002) e “Branco” (2006).
Além da palavra, o som. Sua obra reverberou nas vozes de intérpretes como Vital Lima, Olivar Barreto e Andréa Pinheiro, sob música de Pedrinho Callado e Marcos Campelo. Jovens artistas como Arthur Nogueira, Renato Torres, Juliana Sinumbú e Felipe Cordeiro também encontram nas composições de Dand uma fonte vigorosa de versos.
“Dand é muito interessado em música. O conheço há muito tempo. A primeira vez que eu toquei profissionalmente na minha vida foi num bar que ele tinha, em 2000. Esse interesse toda pela música se reflete nos poemas, que trazem uma sonoridade, um fôlego violento”, diz o cantor e compositor, que acaba de lançar o nacionalmente elogiado disco KistchPopCult – que traz duas faixas com letra de Dand: “Dias quentes” e “Café pequeno”.

Obra em progresso

Em “andreinvisivel”, além de marcar sua estreia na prosa poética, Dand também inaugura uma nova forma de produção do livro, que se torna obra aberta para receber intervenções do público, que poderá acompanhar diariamente o nascimento dos textos e das rimas. A obra em progresso poderá ser acompanhada on-line, via blog e redes sociais. “É uma obra que não está pronta. Desde os textos e os poemas até a escolha da capa (na matéria acima, imagem do primeiro estudo), eu dividirei a criação do livro – mas já posso ver ‘andreinvisivel’ como um belo livro”, diz Dand, que aposta nos modernos mecenas para concretizar o projeto.
Aos moldes da nova tendência de mercado que induz os artistas a buscarem alternativas para realizar seus projetos longe das amarras impostas pela indústria da cultura, Dand convoca os leitores como patrocinadores do projeto. “É como, de repente, você descobrir o fogo: através de um mecanismo simples você envia um projeto para análise e em pouco tempo são criadas possibilidades reais de editar um livro, por exemplo.
Algo realmente necessário para escritores e produtores independentes. Uma atitude vigorosa dos responsáveis”, explica Dand, se referindo ao site Eupatrocino.com, que expõe na vitrine projetos de diversas vertentes, na busca de apoiadores, que podem doar valores estipulados por cada projeto. No caso deste, entre 30 e 200 reais. O motor está ligado.

Livro “andreinvisivel”, do poeta Dand M.. Acompanhe a produção da obra via facebook (Dand Moreira) e pelo site dandpossuido.blogspot.com. Para apoiar a realização do projeto, acesse eupatrocino.com.br.

* "andreinvisivel" na matéria de capa da edição do dia 24 de novembro de 2011, do Caderno Você, do Diário do Pará.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008



u m p o e m a


do Tucunduba ao Estige
a cidade despeja sua dose noturna de poezia e lixo

sob os flancos de Santo Alexandre
a menina chupa uma pica infecta
a cena suga como Verbo
ingere
digere
e
gera
a espinha dorsal da vida
enquanto
o poeta
joga migalhas para as estátuas do Pomar Invisível


poema extraído do livro inédito Possuído ou a Diluição de Lorena, a ser editado em jan/2009 pela Editora Amazônia

sábado, 1 de novembro de 2008

nesta cidade em Outubro sorteia-se imagens de Maria

para não arrefeceres a este Deus te devotas à ciência das noites antes da partilha do Fogo – apenas tua imensa força interior tua águia e tua serpente fazes da solidão tua lavoura retens nos olhos alvoradas invencíveis


agora queres circundar-te de poezia cravejado de todos os vícios ouvir a música do Tempo montar o corcel de Morfeu experimentar outra vez

ao chegar com os grãos olhas demoradamente: a Eternidade apresenta o instinto que sempre negaste: o de não-ser mas todo - tu és no entanto te pesa a cabeça pensa eis teu próprio Inferno: podes requerer o outro que teu rosto forjará no espelho matinal

quando a noite chega - sem ninguém vagas por incêndios amazônicos

nas mãos um livro um golpe uma lira

reflexão e ato: em nome da verdadeira transmutação dos valores devíeis pensar: ele está no meio de nós

degolado